sexta-feira, 27 de novembro de 2009


Aqui Está minha Vida


Aqui está minha vida - esta areia tão clara
com desenhos de andar dedicados ao vento.
Aqui está minha voz - esta concha vazia,
sombra de som curtindo o seu próprio lamento.
Aqui está minha dor - este coral quebrado,
sobrevivendo ao seu patético momento.
Aqui está minha herança - este mar solitário,
que de um lado era amor e, do outro, esquecimento

Atitude


Minha esperança perdeu seu nome...
Fechei meu sonho, para chamá-la.
A tristeza transfigurou-me
como o luar que entra numa sala.

O último passo do destino
parará sem forma funesta,
e a noite oscilará como um dourado sino
derramando flores de festa.

Meus olhos estarão sobre espelhos, pensando
nos caminhos que existem dentro das coisas transparentes.

E um campo de estrelas irá brotando
atrás das lembranças ardentes.

domingo, 8 de novembro de 2009


Canção de alta noite


Alta noite, lua quieta,
muros frios, praia rasa.

Andar, andar, que um poeta
não necessita de casa.

Acaba-se a última porta.
O resto é o chão do abandono.

Um poeta, na noite morta,
não necessita de sono.

Andar...Perder o seu passo
na noite, também perdida.

Um poeta, à mercê do espaço,
nem necessita de vida.

Andar... - enquanto consente
Deus que seja a noite andada.

Porque o poeta, indiferente,
anda por andar - somente.
Não necessita de nada.

De um Lado Cantava o Sol


De um lado cantava o sol,
do outro, suspirava a lua.
No meio, brilhava a tua
face de ouro, girassol!

Ó montanha da saudade
a que por acaso vim:
outrora, foste um jardim,
e és, agora, eternidade!
De longe, recordo a cor
da grande manhã perdida.
Morrem nos mares da vida
todos os rios do amor?

Ai! celebro-te em meu peito,
em meu coração de sal,
Ó flor sobrenatural,
grande girassol perfeito!

Acabou-se-me o jardim!
Só me resta, do passado,
este relógio dourado
que ainda esperava por mim...

Colar de Carolina


Com seu colar de coral,
Carolina
corre por entre as colunas
da colina.

O colar de Carolina
colore o colo de cal,
torna corada a menina.

E o sol, vendo aquela cor
do colar de Carolina,
põe coroas de coral

nas colunas da colina.

Autor: Cecília Meireles

terça-feira, 27 de outubro de 2009


Moça
Wando

Moça me espere amanhã levo o meu coração pronto pra te entregar

Moça, moça eu te prometo eu me viro do avesso, só pra te abraçar

Moça eu sei que já não é pura, teu passado é tão forte pode até machucar

Moça, dobre as mangas do tempo jogue o teu sentimento todo em minhas mãos

Eu quero me enrolar nos teus cabelos

abraçar teu corpo inteiro, morrer de amor, de amor me perder.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Parque industrial

Retocai o céu de anil
Bandeirolas no cordão
Grande festa em toda a nação.

Despertai com orações
O avanço industrial
Vem trazer nossa redenção.

Tem garota-propaganda
Aeromoça e ternura no cartaz,
Basta olhar na parede,
Minha alegria
Num instante se refaz

Pois temos o sorriso engarrafado
Já vem pronto e tabelado
É somente requentar
E usar,
É somente requentar
E usar,
Porque é made, made, made, made in Brazil.
Porque é made, made, made, made in Brazil.

Retocai o céu de anil, ... ... ... etc.

A revista moralista
Traz uma lista dos pecados da vedete
E tem jornal popular que
Nunca se espreme
Porque pode derramar.

É um banco de sangue encadernado
Já vem pronto e tabelado,
É somente folhear e usar,
É somente folhear e usar.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009



Profissão de ladrão

Deram parte ao delegado
Que eu era filho
vadio
Semana que eu não trabalhava
Sustentava mulher com cinco fio
O delegado me intimou
Pr´eu ir na delegacia
Fui prestar depoimento
Daquilo que eu nem sabia
Mas eu tenho tanta profissão
Que já nem sei contar
Inventor, industrial, até cirurgião
Em muita gente que não presta fiz
intervenção
Vou lhe contar
Que no fabrico de boneco sou industrial
Mas vosmicê guarde segredo pela caridade
Pois eu atendo a domicílio na sociedade
E como inventor me orgulho porque eu
Já honrei a memória de Santos Dumont
Inventei um maquinário
Ainda lá na minha terra
Fabricava mil cruzeiros
Mais bem-feito que os da Inglaterra
Sei que quem rouba um, é moleque
Aos dez, promovido a ladrão
Se rouba 100 já passou de doutor
E 10 mil, é figura nacional
E se rouba 80 milhões...
É a diplomacia internacional
A "Boa Vizinhança" e outras tranças
É que na profissão de ladrão
Injustiça e preconceito
Dá chuva pra inundação
Para alguns fama e respeito
Pra outros a maldição
Pois o tamanho do roubo
Faz a honra do ladrão
E é por isso que eu só vou para o xadrez
Seu delegado
Se o senhor trouxer primeiro
Toda a classe para o meu lado
Mas neste dia de aflição
Não vai ter prisão no mundo
Pra caber a multidão
Eu sei que não sou delicado
Mas quem se deu por ferido
Foi porque tem seu pecado

quinta-feira, 10 de setembro de 2009


Chuva, suor e cerveja

Composição: Caetano Veloso

Não se perca de mim
Não se esqueça de mim
Não desapareça
A chuva tá caindo
E quando a chuva começa
Eu acabo de perder a cabeça
Não saia do meu lado
Segure o meu pierrot molhado
E vamos embolar
Ladeira abaixo
Acho que a chuva
Ajuda a gente a se ver
Venha, veja, deixa
Beija, seja
O que Deus quiser...(2x)

A gente se embala
Se embora se embola
Só pára na porta da igreja
A gente se olha
Se beija se molha
De chuva, suor e cerveja...(2x)

Não se perca de mim
Não se esqueça de mim
Não desapareça
A chuva tá caindo
E quando a chuva começa
Eu acabo de perder a cabeça
Não saia do meu lado
Segure o meu pierrot molhado
E vamos embolar
Ladeira abaixo
Acho que a chuva
Ajuda a gente a se ver
Venha, veja, deixa
Beija, seja
O que Deus quiser...(2x)

A gente se embala
Se embora, se embola
Só pára na porta da igreja
A gente se olha
Se beija se molha
De chuva, suor e cerveja...(6x)

segunda-feira, 31 de agosto de 2009


4. No Jardim da Política
(TOM ZÉ)

No jardim da política, meu bem,
vamos passear.
Chega nega morena vem
vamos passear
no jardinzinho bonitinho
cheirosinho formosinho da política
ô meu bem
vamos passear.
Chega neguinha morena vem
vamos passear.
Eu te dou um beijo esquerdista
na ponta do pé
-- você se irrita
e diz que essa servidão capitalista
não lhe conquista.
Eu te peço
a boquinha molhada de saliva,
minha diva,
você diz que essa liberdade
é excessiva.
E diante desta contradição ideológica
te ofereço a rosa comemorativa
desta tua democracia relativa.
E eu pego esse teu rostinho
verde e cor-de-rosa
pego todo o jardim para te dar
e também a rosinha
vermelhinha do PC
e a rosinha
mais vermelhinha do PC do B.
E eu pego todo o jardim para te dar

segunda-feira, 24 de agosto de 2009


A FELICIDADE
(Antonio C. Jobim - Vinicius de Moraes)

Tristeza não tem fim
felicidade sim
A felicidade é como a pluma
que o vento vai levando pelo ar
voa tão leve
mas tem a vida breve
precisa que haja vento sem parar
a felicidade do pobre parece
a grande ilusão do carnaval
a gente trabalha
o ano inteiro
por um momento de sonho
pra fazer a fantasia
de rei ou de pirata ou jardineira
pra tudo se acabar na quarta-feira

A felicidade é como a gota
de orvalho numa pétala de flor
brilha tranqüila
depois de leve oscila
e cai como uma lágrima de amor.

A minha felicidade está sonhando
nos olhos da minha namorada
é como esta noite
passando, passando
em busca da madrugada
falem baixo por favor
pra que ela acorde alegre como o dia
oferecendo beijos de amor.

Tom Zé, nome artístico de Antônio José Santana Martins (Irará, 11 de outubro de 1936) é um compositor, cantor e arranjador brasileiro.

É considerado uma das figuras mais originais da música popular brasileira, tendo participado ativamente do movimento musical conhecido como Tropicália nos anos 1960 e se tornado uma voz alternativa influente no cenário musical do Brasil. A partir da década de 1990 também passou a gozar de notoriedade internacional, especialmente devido à intervenção do músico britânico David Byrne.